Lembro-me da adolescência, da época em que tudo começou; de
quando eu tinha apenas 13 anos e já media 1,86. Eu era alto, magro e chamava a atenção
das meninas da vizinhança. Lembro-me de como a vida era fácil, passava as
manhãs na aula e as tardes lendo com a tv ligada. Saia com os amigos pra tomar
banho de rio e andar pelo mato; andava de bicicleta e já sonhava acordado,
sonhava em realizar sonhos que nunca foram realizados.
Quando ouvia que teria uma festa eu sempre pedia dinheiro
para meu pai e ele sempre me dava, todo orgulhoso do filhão indo pegar as
meninas. Eu sempre desviava do caminho da festa e ia jogar videogame em um bar
da cidade, sozinho e perdido em
pensamentos eu ignorava o mundo a minha volta e naquelas horas me tornava algo
melhor.
Incontáveis vezes salvei o mundo, o universo e vi os créditos
descerem ao som de uma musica inspiradora. Eu já havia perdido parte da
capacidade de me comunicar com as pessoas, já estava em processo de transformação,
caminhando a passos largos em direção ao que sou hoje. Eu via garotas olhando
pra min e comentando com as amigas entre sorriso coisas como – ele é tão
bonito, pena que não fala-.
Eu tinha amores platônicos que nunca saiam disso, pois como
amar fisicamente alguém com quem eu não conseguia conversar? Como chamar pra
sair uma garota quando eu mal conseguia dizer oi para as pessoas no meu dia a
dia? E assim, enquanto todos aprendiam a “xavecar”, a dar encima e beijar; eu
aprendia a deixar minha mente fluir e criar meu próprio mundo.
Eu vivi nesse mundo por anos, fechado em minha mente, vivia
aventuras e vidas muito diferentes da minha. Lembro me de me imaginar longe de
tudo vivendo em uma floresta de um verde muito escuro que se estendia pelo
infinito sob um céu violeta carregado de nuvens. Enquanto isso meu pai gritava bêbado
e minha avó tentava acalma-lo, as vezes eu era um gênio em um laboratório encontrando
a cura para o câncer e as pessoas aplaudiam e gritavam meu nome. Na verdade era
meu pai gritando que eu era um inútil, besta, burro e que nunca seria nada na
vida.
Cresci assim, perdido em meu mundo, vivendo dentro de minha
mente e assim me perdi. Ao me isolar eu ganhei um universo todo só para min,
mas perdi uma vida toda de pequenos momentos felizes. Lembro quando meus amigos
começaram a ir embora de minha vida porque eu não saia para festas e bailes. Lembro
de ser a vergonha do meu pai por não ter namorada. Lembro-me das noites quando não
conseguia ficar em meu mundo e chorava até dormir.
Acho que por hoje é só .
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